7 de fevereiro de 2018

nem nada

sem nenhuma referência
nenhum texto grifado há tanto tempo
me constituo de pedaços dos outros que acho pelo chão
os restos os risos que não rio porque não tenho folêgo
e nem tentando
o que era agora me responde com mais frequência do que quando ansiava
sempre por qualquer coisa
e vejo passar entre os fragmentos de conversa meu antigo nome
meu antigo nome e memórias que deveria ter escrito e agora não me recordo
não poderia descrever mais se a mão direita ou esquerda que segurava o ombro
e a repulsa
não me lembro
todos os dias procurando por todos os lugares em que eu poderia estar
nunca estando, só os rastros dos dedos nas teclas do piano mas já não me lembro mais
e agora não procuro mais, deito e finjo dormir até dormir e dormir e dormir e acordar
e espero que me digam, e quando dizem qualquer coisa as vezes parece ser suficiente e dura algum tempo, mas nem isso mais, passo reto e não reconheço chamarem meu nome
e não me remeto mais a mim ou a quem fui, andando pelo gramado, cabeça de lado
não me afirmo como antes, à beira do precipício, em queda, me firmando nos escombros quando ainda não escombros, mas a necessidade do desmoronar
me desfiz tantas vezes fazendo-me o nada que sabia ser
mas agora não sei mais, não sei mais, não sei mas lê-se na voz bamba de quem tenta em meio ao desespero
mas continuo com medo, se ao menos esquecesse também isso
agora não sou enquanto sinto medo, e preferia só não ser ou ser nada com medo
a decadência interna a mim, arestas de algum polígono que não importa
margens de um rio seco