21 de abril de 2017

valsa

as cinzas ainda vermelhas
do primeiro cigarro da noite
cinzas brasa
convido sempre alguém para entrar
convido de dentro
portas fechadas
e é linda a vista mas não me lembro
de quando o que apenas vi
foram dedos em dedos
e corpos valsando
e a despedida que não escutam
a água a mesma
a luz a mesma
todas
e toda vez eu chamo sem enviar
as cartas
sei onde buscar abrigo
mas espero na chuva no frio
espero me acostumar
cada vez mais magra
meus ossos os observo no espelho
ou alinhados à mesa
os cortes os observo nos braços
dos outros a queda
cicatrizes de mãos que se seguram
forte demais
eu existo eu acho
mas não meus dedos apoiados
sozinhos sobre dedos
e o hálito através da neblina
que causamos por dentro
eu espero que os mesmos braços
me guiem e não guiam
e não ouço os mesmos sons em casa
sem o direito da despedida
fico só fechando portas
e virando chaves
enquanto a brasa apaga e as sobras se fazem
cinzas na madeira
vozes que não me dizem nada
ainda a mesma coisa por quanto tempo
sinto medo e morro cada vez mais magra
como se
ossos ao chão
sem uivos sem sons