eu preciso
ficar ainda um tempo do lado de trás da tela
vendo por
entre pedaços da foto que que foto que foto eu fiz sempre tudo errado
o som e a
voz que droga o som e a voz
eu fico sera
será que eu fico também do lado pela tela
ouvindo
lendo lendo
eu não sei o
que fazer
eu consegui
fazer dois meses parecerem um ano e um ano se passou
e eu queria
alguma coisa e nada passou
eu sinto
ainda a mesma coisa lâmina à pele
e meus olhos
continuam os mesmos que observavam antes emergir
a cor e a
água em ondas , ondas eu sinto todo meu corpo preenchido
envolvido , você
sequer saber o gosto de sal da água
e afunda sem
abrir os olhos eu abro olhos eu to com muito medo
eu não sei não
vejo areia
eu não sei
se eu não quero que ser só
a mesma cena que vi na tela
eu não tenho
mais maquiagem para remover eu não tenho
eu não me
sinto bem eu não sei qual parte dói
não adianta
ir pra lugar nenhum se ainda quantas vezes
não sei,
como se estivesse embriagada eu me mexo e escrevo
errando
letras e esquecendo partes escuras de noite de noite
tudo só
amortece e ainda sinto depois de dois meses
um ano a
faca que me abre de dentro procurando espaço para respirar
eu um ano a
faca
eu não entendo
ou me importo com a forma de nada e nada se encaixa dentro de nenhuma medida
que minha voz não destrua fora de
fora
fá fora de
tom
quantas
vezes eu acho que entendi uma última vez que espero
e não adianta
ir para lugar algum
uma última
vez eu vou existir em pânico a noite sem saber
eu não suporto
o pânico eu nunca quis muita coisa
eu nunca
perguntei muita coisa e eu não tenho nenhuma dúvida
só não sei e
não me lembro de nada que faça sentido
nós não
subimos eu não existo fora eu não existo
eu não
existo meu rosto numa fotografia não me conhece e não me diz
o sorriso eu
choro enquanto a morte vem em pequenas mordidas
tentando me
acordar, me levantar, me levar para o banho
tentando me
dizer o que escrever, limpar manchas de vinho dos cantos da boca
eu quase
nunca choro não choro mas em um ano ou dois meses
eu sei fazer
as poucas contas que preciso eu não quero ter que ver ir embora
quero ver ir
embora quero todo dia numa perspectiva circular
habitar
apenas o momento que vejo vários corpos todo dia o mesmo
cada um indo
em outras direções eu não sei existir senão um corpo parado
que vê
cansado de dizer de dizer de dizer de dizer
a ária de
uma voz que não existe
a ária minha
voz desafinada
mlq que
porra é essa
eu não sei
fazer mais nada eu não sei separar mais as palavras QUANTAS VEZES QUANTAS VEZES
QUANTAS VEZES nunca soube fazer nada que merda mais pedante tudo
tudo nada
amortece vejo morrer aos poucos uma barata asfixiada sem morrer sem morrer
morre várias
vezes a cada espasmo eu sinto cada espasmo e vejo por todos os lados
tudo nada
amortece eu gostaria de existir entretanto entretanto entretanto
eu sinto
cada novo fio de cada nova lâmina
quase como
arrancar cada dente
eu sinto
tudo , todo espasmo , todas as gotas que chegam na hora certa
eu sou um
humano que procurar um lugar pra entrar eu não existo
não devem
ser os meus dentes não devo existir não tenho como sorrir do outro lado
eu posso
morrer btf