30 de outubro de 2016

rut

com duas facas pergunto
qual a vontade que suga antes
e prefiro não me asfixiar prefiro
agora prefiro não
eu existo e morro de tédio ainda um dia
ao olhar os cantos dos quartos que entro
e eu prefiro, havendo assassinado todo o resto,
voltar ao tédio e levantar e deitar cinco vezes
em um dia
acho que devo partir
e respirar do outro lado do quarto
do outro lado do carro
e se eu finalmente partir o que mais o que há ainda
do lado de fora dessa mesma coisa
prefiro não cuidar de nada
e se precisam de mim , não precisam, não existo mais
eu existo à parte
eu sou o que importa e eu vou embora
eu existo em parte, eu acho que existo em parte
mas olho as coisas numa constante despedida
e me despeço de longe, sem saber quais eram as cores
da camisa
não existindo
não deixo marcas
ou nomes
e se lembram de algo que tropeçava na chuva
ou um ritmo um ritmo mas não se lembram
ecoa na pele e nos movimentos um ainda anterior
sem nunca ter havido
marcas ou nomes
eu não existo não existo existo
não
não
sei se vou voltar

35 mm