20 de junho de 2016

dia seguinte

Tão vulnerável o corpo que caminha à beira da estrada
E observa os carros que passam
E ouve as discussões que têm os que já não se amam.
Pensa, o corpo, no corpo abandonado à beira da estrada
E no tanto que não é dizível um corpo que anda e não anda mais
E não só não anda, como não é, senão carne empilhada em carne.
Pensa no grotesco e no diálogo que teria com o que caminharia ao lado
Conversariam sobre as coisas e interpretaria tudo
E tudo estaria certo
Uma perspectiva certa e aberta, a visão da possibilidade que se desfaz
Na terceira forma de condicional
Onde tudo estaria errado, pelo simples fato do tudo ser absolutamente nada.
Pensa nos olhos dos que se amavam e responde as perguntas que ficam em aberto.
Se você não tem nada a dizer, diga-me logo
Não tenho nada a dizer, diria calmo o outro que antes monstro
Agora só a mesma forma de sempre
E o corpo faria a mesma cara que fez, apenas se expondo um pouco mais
Diga-me que tem mais alguma coisa a dizer
Mas ia continuar sem dizer que não tem nada a dizer,
E o silêncio preenchido por alguma outra coisa.
Tão vulnerável o corpo que caminha à beira da estrada

Agora que já não tem fé pode continuar a andar o corpo que já andava
Mas tem vontade de sentar e esperar passar carros e corpos
E esperar se desfazer a carne no meio do asfalto
E esperar se calarem os que não se amam e conversam dentro dos carros